Judicialização da Saúde e da Medicina no Brasil: Uma Análise Detalhada

Judicialização da Saúde e da Medicina no Brasil: Uma Análise Detalhada

A judicialização da saúde e da medicina no Brasil é um fenômeno crescente que tem desafiado tanto o sistema judicial quanto o setor de saúde. Recentemente, uma pesquisa aprofundada conduzida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelou um panorama detalhado desse fenômeno. Este post oferece uma visão abrangente sobre o estado atual da judicialização da saúde e da medicina, explorando dados sobre o número de processos, características regionais, especialidades médicas mais impactadas e os resultados desses processos.

VISÃO GERAL DA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

Atualmente, o Brasil enfrenta um número significativo de processos relacionados à saúde. Com 573.750 casos em aberto e 562.206 médicos em atividade, a relação entre a quantidade de processos e o número de profissionais é notável. Isso resulta em uma média de 2,59 processos por mil habitantes e 1,02 processos por médico. A maior parte dos processos está na Justiça Estadual (496.400 casos, ou 86,52%), enquanto a Justiça Federal lida com 77.350 casos (13,48%).

Entre 2021 e 2022, os processos judiciais relacionados à saúde aumentaram em 19%. Ao longo dos últimos nove anos, os processos de saúde na primeira instância cresceram 198%, enquanto os processos gerais diminuíram 6%. Na segunda instância, os processos de saúde cresceram 85%, contrastando com uma redução de 32% nos processos gerais. A duração média dos processos em andamento é de 439 dias, enquanto aqueles que já foram decididos levam, em média, 747 dias.

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DOS PROCESSOS

A distribuição dos processos judiciais varia amplamente entre as diferentes regiões do Brasil. A região Sul tem a maior taxa de processos por mil habitantes (5,11), seguida pelo Sudeste (3,12), Centro-Oeste (2,72), Nordeste (1,85) e Norte (0,80). Quando se considera o número de processos por médico, o padrão é similar, com o Sul liderando (1,75), seguido pelo Centro-Oeste (1,10), Nordeste (1,02), Sudeste (0,81) e Norte (0,58).

Os estados com o maior número absoluto de processos são São Paulo (133.500), Rio Grande do Sul (83.710), Minas Gerais (50.520), Rio de Janeiro (33.750) e Bahia (27.330). A média de processos por mil habitantes é especialmente alta no Rio Grande do Sul (8,47), enquanto São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro apresentam médias menores, mas ainda significativas. A média de processos por médico também varia, sendo mais alta no Rio Grande do Sul.

A taxa de condenação de médicos varia entre os estados, com Bahia liderando com 50%, seguida por Rio de Janeiro (43,05%), Rio Grande do Sul (36,26%), São Paulo (30,42%) e Minas Gerais (30,21%). Isso demonstra diferenças significativas na forma como os casos são tratados em diferentes regiões do país.

ESPECIALIDADES MÉDICAS E JUDICIALIZAÇÃO

A judicialização afeta diferentes especialidades médicas de maneiras variadas. No Supremo Tribunal de Justiça (STJ), as especialidades mais envolvidas são Ginecologia e Obstetrícia (42,60%), Traumatologia e Ortopedia (15,91%), e Cirurgia Plástica e Cirurgia Geral (ambas com 7%). Essas especialidades enfrentam um volume elevado de processos, refletindo questões específicas e complexas em cada área.

No Sistema Único de Saúde (SUS), as especialidades mais frequentemente processadas incluem Traumatologia e Ortopedia (90,50%), Cardiologia e Oftalmologia (ambas com 57,10%), Oncologia Clínica (47,60%) e Urologia (42,90%). No contexto das redes municipais, as principais especialidades processadas são Traumatologia e Ortopedia (64,80%), Oftalmologia (40%), Psiquiatria (38,70%), Cardiologia (27,80%) e Neurologia (27,40%).

Além disso, a pesquisa revelou que 16% dos réus em processos são médicos individuais, enquanto 46% são pessoas jurídicas (principalmente hospitais e clínicas), e 38% são médicos que atuam como pessoas jurídicas. Dentro das pessoas jurídicas, hospitais e clínicas representam 45,83%, o poder público 37,5%, e planos de saúde 16,67%.

RESULTADOS DOS PROCESSOS

Entre 2001 e 2011, houve um aumento de 302% no número de processos relacionados à saúde, o que levou a um aumento de 180% nas condenações. No âmbito do CFM, dos processos éticos analisados, 89,8% foram arquivados, 9,4% resultaram em processos ético-profissionais, e 2,7% foram extintos. As infrações mais comuns ao Código de Ética Médica incluíram o Art. 38 (16 infrações), Art. 40 (14 infrações), e Art. 18 (12 infrações).

Na Câmara do CFM, as especialidades com mais processos foram Clínica Médica (23,5%), Ginecologia e Obstetrícia (14,3%), e Cirurgia Plástica (6,3%). As penalidades mais frequentes foram advertências confidenciais e censuras, com um número menor de cassações e suspensões.

No Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), em 2022, foram encerradas 3.224 sindicâncias e julgados 798 processos éticos, com 492 condenações e 306 absolvições. As principais questões abordadas nos processos incluíram atendimento médico, conduta ético-profissional, e questões relacionadas a cirurgias plásticas e atestados médicos.

CONCLUSÃO

A judicialização da saúde e da medicina no Brasil é um fenômeno que reflete complexas interações entre o sistema de saúde e o sistema jurídico. O aumento no número de processos, a variação regional e as diferenças entre especialidades médicas destacam a necessidade de uma abordagem mais eficaz para lidar com esses desafios. Compreender esses dados é essencial para melhorar tanto a qualidade do atendimento médico quanto a eficiência do sistema judicial. A análise contínua desses aspectos pode contribuir para soluções mais eficazes e uma maior harmonização entre os setores envolvidos.


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